Museu de Arte Murilo Mendes | MAMM
Reencontro com sua própria vocação, a escrita, a jornalista Malu Guilhermino revolve o baú de histórias de seu pai, Raul Lopes, para levar a público o livro “Dançando às margens dos trilhos”, que tem lançamento no Museu de Arte Murilo Mendes (MAMM/UFJF), na sexta-feira, 8 de novembro, às 19h30. Em 282 páginas, ela relata alguns dos principais acontecimentos do país e do mundo sob a ótica de um homem de muitos talentos, que se tornou um atento observador dos fatos políticos, econômicos e sociais de seu tempo.
A partir de conversas de fim de tarde na casa do pai, no bairro Bom Pastor, sempre regadas a risadas, revelações, café e outras delícias, ela traz à tona a forma peculiar como ele enfrentou seus percalços, dando a volta por cima e se transformando em um dos fundadores do Instituto Histórico e Geográfico de Juiz de Fora. “Ele tem uma história muito interessante e agregou isto a fatos e coisas que presenciou ao longo de sua trajetória. A vida dele tinha tudo para dar errado e ele conseguiu mudar o rumo da própria história e da família”, conta.
“Dançando às margens dos trilhos” tem prefácio de outro jornalista, Ismair Zaghetto, que acompanhou Malu durante o período compreendido entre o final dos anos 1970 e meados da década de 1990, nas redações do Diário da Tarde (hoje extinto) e da Tribuna de Minas, além de ter convivido com Raul Lopes no Colégio Machado Sobrinho. Lá, ele o viu se transformar em um conceituado professor e a conquistar prestígio no meio acadêmico até ser reconhecido como um dos mais influentes educadores de Juiz de Fora e região.
Tributo
Com a escrita afiada da filha, o olhar crítico de Raul Lopes sobre a sociedade percorre desde os anos 1930 até a década de 1980, resultando na narrativa de fatos interessantes, alguns curiosos, e todos com bases reais. O romance acaba por abarcar os pensamentos e as ações de grande parte da elite intelectual, econômica e política que se destacou no cenário local, estadual e nacional de então, instigando o leitor à compreensão dos seus reflexos nos tempos atuais, o que encampa diferentes gerações.
Malu conta que seu pai, negro, filho de mãe analfabeta, sobreviveu à fome e ao preconceito quando foi levado à condição de chefe da família, aos 9 anos, após a gripe espanhola matar seu pai ferroviário. Aos 13 anos, sua família foi expulsa de onde morava, um sítio que havia sido comprado sem contrato, um negócio firmado pela palavra e descumprido pelos donos anteriores, o que deu início a uma luta pela sobrevivência que o leva a deixar Três Rios, que na época chamava-se Entre Rios.
“Em uma migração forçada para Juiz de Fora e depois de muitas noites ao relento, consegue seu primeiro emprego como operário de uma fábrica de cobertores. A vida na cidade grande transforma a visão do garoto nascido na roça que passa a absorver um mundo totalmente novo e o estimula a lutar pelo conhecimento”, relata Malu.
“Raul Lopes se transforma em leitor ávido de obras de toda a natureza, o que o leva a formar sua própria biblioteca, alçada, anos mais tarde, a um espaço para estudantes realizarem consultas acadêmicas. Já formado em contabilidade, passa a dirigir uma fábrica de papel, função que se soma à de professor no Machado Sobrinho, colaborando também com o Instituto Histórico e Geográfico de Juiz de Fora”, resume.
Bases sólidas
Publicação da Multifoco, a obra integra os arquivos Birrumba da editora carioca e a expectativa é de que também seja disponibilizado como e-book, ainda sem data prevista. A capa é de Tadeu Costa, professor e artista gráfico, amigo da jornalista desde os tempos dos Diários Associados e hoje radicado em São Paulo. O desenho foi desenvolvido com base em uma foto em preto e branco que retrata a estação da Estrada de Ferro Central do Brasil (EFCB) de Três Rios datada da época em que Raul Lopes ainda vivia naquela cidade.
Com tiragem inicial de cem exemplares, o livro traz abertura para novas edições, de acordo com a demanda de leitores. Do total de páginas, 271 estão divididas em relatos independentes, de modo que o público tem a possibilidade de direcionar a leitura para o capítulo que escolher, sem prejuízo do conteúdo. “Embora seja uma obra com uma cronologia definida, os temas podem ser apreciados de forma distinta”, ressalta Malu.
“Dançando às margens dos trilhos” é seu primeiro livro e faz parte de um projeto maior que remete à sua iniciação no jornalismo, como repórter do Diário da Tarde, à sua lapidação como editora de cidade da Tribuna de Minas, participando do projeto de criação do jornal, e, depois, integrando a equipe de reportagem liderada pela jornalista Ateneia Feijó, que lhe abriu espaço para entrevistas especiais da Revista Manchete, publicação de destaque pela Editora Bloch, que teve sua última edição em 2000.
“Ainda atuando como jornalista me enveredei pelo caminho da poesia e das crônicas (várias) que permanecem inéditas, aguardando novo impulso de coragem para serem editados”, conta, lembrando que tem mais dois livros prontos para publicação. Um deles já está aprovado por uma editora diferente e com lançamento previsto para o início de 2020. O outro ainda precisa ser submetido à aprovação editorial. Sobre os novos temas abordados, ela adianta apenas que se trata de questões super atuais.
Por agora, a noite de autógrafos no MAMM é a única definida, apesar de a Editora Multifoco já ter oferecido seu espaço cultural, sediado na Avenida Mem de Sá, no centro do Rio de Janeiro, para um novo evento. “No mais, é torcer para que haja uma boa aceitação desta primeira obra que torno pública, para que me estimule a novas aventuras na área literária”, conclui.
Serviço
Noite de autógrafos: “Dançando às margens dos trilhos”, de Malu Guilhermino
Data: 8 de novembro, sexta-feira, às 19h30 Local: Museu de Arte Murilo Mendes Endereço: Rua Benjamin Constant, 790 Outras informações: 2102-3964 (Pró-reitoria de Cultura) / 3229-9070 (MAMM) * Preço de lançamento: R$50,00 |