Exposição reúne documentos inéditos sobre o período em que o poeta viveu na Itália
Manuscritos literários, recortes de jornais, correspondências: documentos que remontam ao período em que Murilo Mendes viveu na Itália. Estes e outros arquivos estão reunidos na exposição Murilo Mendes: obra em movimento – Coleção Luciana Stegagno Picchio. A mostra é fruto da mais nova aquisição do Museu de Arte Murilo Mendes da Universidade Federal de Juiz de Fora (MAMM/UFJF) – um acervo inédito organizado pela historiadora da cultura, crítica literária e professora emérita na Universidade de Roma La Sapienza, Luciana Stegagno Picchio, gentilmente doado pelo filho da pesquisadora, Michelle Stegagno Picchio e por sua esposa Rita Desti.
O conjunto documental contém, ainda, datiloscritos, projetos de livros, fotografias, cartazes e catálogos. Trata-se de um arquivo pessoal da pesquisadora italiana, amiga pessoal e profissional de Mendes, que se notabilizou, entre outros tantos feitos, pela organização da obra completa do poeta para a Editora Nova Aguilar, época em que reuniu o material doado. “O conceito de arquivo pessoal refere-se a um conjunto de documentos produzidos, ou recebidos, e mantidos por uma pessoa física ao longo de sua trajetória pessoal e profissional. Ou seja, reflete a produção intelectual do titular, as relações profissionais, aspectos culturais e sociais, bem como suas relações íntimas”, explica a responsável pela Divisão de Arquivo do MAMM/UFJF, Lucilha Magalhães.
Os documentos que compõem a curadoria da exposição foram selecionados pelo escritor e pesquisador sobre a vida e a obra de Mendes, Júlio Castañon Guimarães. “O objetivo dessa exposição é permitir que o público tome conhecimento do importante material que recentemente passou a fazer parte do acervo do museu. A seleção – feita com a colaboração da Lucilha Magalhães e do responsável pela Divisão de Expografia, Paulo Alvarez – procurou mostrar, em primeiro lugar, a variedade do material e, também, como ele se relaciona com a produção da obra literária de Murilo Mendes, ou seja, como ele elaborava seus textos, alterando-os e corrigindo-os”, explicita o curador.
Castañon Guimarães buscou relacionar o novo acervo ao já existente no museu: “O manuscrito de um texto sobre um determinado artista plástico pode ser visto perto de uma obra deste artista que integra a Coleção Murilo Mendes, ou o manuscrito de um texto sobre um escritor pode ser visto ao lado de um livro desse escritor, que integra a biblioteca do poeta preservada no museu”.
Murilo Mendes, por muitas vezes, reescrevia seus poemas, mesmo depois de terem sido publicados. Em Murilo Mendes: obra em movimento – Coleção Luciana Stegagno Picchio, apresentam-se trechos do livro As metamorfoses (1944) que passaram por mudanças de uma edição para outra. “Estão sinalizadas as passagens que o autor alterou. À esquerda, estão as versões publicadas na primeira edição do livro, enquanto, à direita, aquelas publicadas quando da reedição do livro no volume Poesias, em 1959”, exemplifica Alvarez.
“Reafirmando a máxima de Murilo Mendes sobre a correlação palavra/imagem, toda esta riqueza arquivística, para muito além de informações literárias e pessoais, estamos diante de um acervo inspirador de novos projetos expográficos”, avalia.
Culminando a conquista resultante de um dedicado trabalho institucional ao longo de duas décadas, os documentos chegaram ao país através de um malote diplomático intermediado pelo Embaixador do Brasil na Itália, Hélio Vitor Ramos Filho, e pela Secretária do Setor Cultural, Imprensa e Mídias Sociais da Embaixada do Brasil em Roma, Laura Paletta Crespo. “Trata-se de um conjunto documental de excepcional importância para o fomento da pesquisa em nosso Museu, notadamente os estudos voltados para o aprofundamento do itinerário biográfico de Murilo Mendes e a rede de sociabilidade que ele travou com muitos artistas, escritores e intelectuais”, avalia o superintendente do MAMM/UFJF, Aloisio Castro. Ele acrescenta, ainda, que essas fontes primárias de pesquisa deverão contribuir para revisões historiográficas e múltiplas abordagens interpretativas relacionadas à vida e a obra do poeta.
De acordo com a Pró-Reitora de Cultura da UFJF, Valéria Faria, esta é uma das mais significativas aquisições que a universidade fez, na atual década, sobre o trabalho desenvolvido por Mendes como escritor, crítico de arte e colecionador, no Brasil e no exterior, especialmente nos anos em que residiu na Itália – o chamado “Período Romano” – quando foi professor na Universidade de Roma La Sapienza, ao lado de Luciana.
“A coleção se coaduna aos objetivos estratégicos do MAMM/UFJF, sendo um acréscimo fundamental aos acervos do museu, movimentando os trabalhos da unidade museológica de forma a expandir o conhecimento e o saber em uma instituição que, além de pautada na tríade ensino, pesquisa e extensão, se orgulha de empunhar a bandeira da arte e da cultura como instrumento de cidadania, inclusão e transformação”, analisa Valéria.