Exposição homenageia o artista Ismael Nery, grande amigo de Murilo Mendes
No ano marcado pelos 90 anos de falecimento do artista Ismael Nery, grande amigo de Murilo Mendes, o Museu de Arte Murilo Mendes da Universidade Federal de Juiz de Fora (MAMM/UFJF) apresenta a exposição Nery, para sempre Ismaelíssimo. Reunindo obras do artista que fazem parte da coleção de nosso patrono, a mostra apresenta textos de Mendes sobre Nery, além de livros e objetos do acervo do museu e críticas de Mário de Andrade e Paulo Sergio Duarte.
“Ao demarcar a data que recordamos 90 anos da morte de Ismael, o MAMM quer ressaltar principalmente a sua arte e como ele a utilizava de maneira a expressar seu espírito visionário e místico, criando uma obra singular, muitas vezes renegada dentro do movimento modernista brasileiro”, explica o responsável pela Divisão de Expografia do museu, Paulo Alvarez.
De acordo com Alvarez, os excertos selecionados ajudam a contextualizar o trabalho do artista e aproximar o público da obra. “Para orientar os visitantes, utilizamos principalmente fragmentos de textos escritos por Murilo Mendes, reunidos posteriormente no livro “Recordações de Ismael Nery”. Assim, além do compartilhar partes desta história, obra e vida, de uma perspectiva íntima e única, objetivamos também celebrar esta amizade profícua, reverberada por tantos outros intelectuais da época”.
Murilo Mendes conheceu Ismael Nery quando mudou-se para o Rio de Janeiro, em 1921. Para ele, além de pintor, desenhista e arquiteto, o amigo era poeta, filósofo e, mesmo, teólogo. “Eu trabalhava na antiga diretoria de Patrimônio Nacional no Ministério da Fazenda. Ismael Nery foi nomeado desenhista da seção de arquitetura e topografia. Vi, um belo dia, entrar na sala um moço elegante e bem vestido. Ajeitou a prancheta, sentou-se e começou a desenhar. Meia hora depois saiu para o café. Aproveitei sua ausência e resolvi espiar o que ele fazia: rabiscava bonecos em torno de um projeto para o edifício de uma alfândega. Ao regressar puxei conversa com ele: saímos juntos da repartição. Assim começou uma amizade que se prolongou ininterruptamente até o dia de sua morte, em 6 de abril de 1934”, escreve Mendes em “Recordação de Ismael Nery”, em 1948.
Ao longo da vida, Mendes escreveu também sobre a obra de Nery, inclusive sobre Enseada de Botafogo, pintura de 1928 que faz parte do acervo do MAMM:
A Enseada de Botafogo
Há uma mulher na pedra
Que desafia a eternidade
Deus pensa a eternidade na pedra
A eternidade é mulher
A pedra desafiada pelas nuvens
E pelo mar que pretende miná-la pouco a pouco
É consolada pelas gaivotas.
Mendes afirma que, apesar de considerar a pintura uma atividade secundária, Nery prosseguia a sua obra de artista magnificamente dotado de técnica seguríssima: “de um raro poder de assimilação (encontram-se muitas ‘citações’ nos seus desenhos), censurado como ‘virtuose’ por alguns que o imitavam; oscilando entre a linha clássica e a moderna; passando do expressionismo ao cubismo e ao surrealismo, mas sempre ismaelíssimo”, escreve na introdução do livro “Ismael Nery”, de Antônio Bento, publicado em 1973.
Nery, para sempre Ismaelíssimo já pode ser visitada durante todo o horário de funcionamento do museu. A solenidade de abertura da exposição acontecerá na quarta-feira, 15 de maio, às 19h, no auditório do MAMM. Na ocasião, a pesquisadora Marisa Timponi abordará a relação de amizade entre Murilo Mendes e Ismael Nery. O público presente, além conferir a mostra, será presenteado com um exemplar do livro “Murilo Mendes e Ismael Nery: reflexos”.
O livro das pesquisadoras Leila Barbosa e Marisa Timponi, completa 15 anos em 2024. Primeira publicação do Selo MAMM e finalista do Prêmio Jabuti, a obra busca dialogar as imagens ismaelinas com as palavras murilianas.
“O encontro de Murilo com Ismael dá um novo rumo a estética muriliana e ismaelina, pois tanto um quanto o outro abriram caminho nas inventivas relações entre a liberdade e a eternidade”, defendem as autoras no livro.
Serviço
Exposição: Ismael, para sempre Ismaelíssimo
Local: Galeria Poliedro, Museu de Arte Murilo Mendes
Endereço: Rua Benjamin Constant, 790
Visitação: de terça a sábado, das 9h às 18h, e domingo, das 13h às 18h
Entrada gratuita
Solenidade de abertura
Data: 15 de maio, às 19h
Local: Museu de Arte Murilo Mendes
Endereço: Rua Benjamin Constant, 790
Entrada gratuita
Outras informações: producao.mamm@ufjf.br ou (32) 2102-3583