Museu de Arte Murilo Mendes | MAMM
Ronald Polito nos surpreende em sua exposição Minimundos com um conjunto expressivo de trabalhos que vão de desenhos a aquarelas, de colagens a objetos. A experimentação com materiais diversos é o que guia os trabalhos do artista, e suas escolhas envolvem, principalmente, a apreciação material dos mesmos, ou seja, sua textura, peso, forma, tamanho e cor.
Seu poder de criar ambivalências físicas também não pode ser deixado de lado, como no caso de materiais extremamente delicados que nos passam, na medida em que se transformam em objetos de arte, uma imagem de estruturas inquebrantáveis.
Os desenhos seguem um caminho de traçados de formas regulares, recorrentes e ritmadas. As cores modulam esses elementos formais, que são os principais agenciadores das figuras que se precipitam sobre o papel, ora numa explosão de formas, ora em sua implosão.
O grafismo de várias dessas criações de Ronald Polito remete muitas vezes ao puro prazer da forma e de sua vida própria, constituída de cor, linha e textura. Uma espécie de “escrita pictórica” (traços, riscos, rabiscos, borrões), que nos faz pensar nos trabalhos plásticos de Barthes e Michaux, e que se desenvolve numa configuração sintética da forma em busca do mínimo.
Há um desejo — e, também, um prazer — quase maníaco de ordem, de equilíbrio, que se expressa na tentativa feliz de domar a matéria em sua possibilidade de oposição à tensão desse mesmo equilíbrio. Em várias dessas obras, principalmente nos objetos construídos com grafites, a noção de estrutura guarda em si mesma a noção pretérita de desabamento. São como acidentes por via de acontecer, mas que se mantêm controlados. É o milagre da arte. E só dela.
Se há em alguns desses trabalhos certa tendência ao figurativo (em geral, sempre pronto a uma ironia pontual em seu conceitualismo, como no caso de uma sucessão de muros que se sucedem), eles guardam também sua superação aos olhos encantados do espectador, que vê no seu tratamento delicado e no jogo de cores a impossibilidade de ancoragem em sentidos externos à própria obra. A maldade do autor pode encontrar sua corrupção nos olhos do espectador.
Além dos finíssimos grafites, cujo uso, até onde sei, é uma novidade nas arte plásticas, há as colagens de folhas de papel-manteiga e de seda (com as superfícies queimadas) que se põem delicadamente sobre o papel criando abstrações com formas geométricas irregulares que nos remetem aos delicados desenhos geométricos de Paul Klee.
Quando ao título da exposição, não é outra coisa que quer Ronald Polito com sua obra meticulosa senão criar minimundos, com um “discurso” visual despossuído de qualquer grandiloquência, indo o artista, ao contrário, na direção de um de seus autores preferidos, Beckett, e seu “dizer mínimo”.
Jardel Dias Cavalcanti
Professor de História da Arte e Crítica de Arte
Universidade Estadual de Londrina (PR)