História do Brasil. Rio de Janeiro: Ariel,1932.
Fico
Eu fico, pois não,
Se a todos dou bem.
Preparem as mulatas,
Recheiem os p’rus,
Avisem os banqueiros,
Suprimam os chuveiros,
Me comprem mercúrio,
Afinem as guitarras,
Previnam o Chalaça,
Aprontem o troley,
Eu fico, mas vou
Falar com a Marquesa,
Já volto pra ceia.
Falando em comidas
Eu fico, pois não.
Tempo e eternidade. Porto Alegre: Globo, 1935.
Filiação
Eu sou da raça do Eterno.
Fui criado no princípio
E desdobrado em muitas gerações
Através do espaço e do tempo.
Sinto-me acima das bandeiras,
Tropeçando em cabeças e chefes.
Caminho no mar, na terra e no ar.
Eu sou da raça do Eterno,
Do amor que unirá todos os homens:
Vinde a mim, órfãos da poesia,
Choremos sobre o mundo mutilado.
O sinal de Deus. Rio de Janeiro: Edição do autor, 1936.
O Homem e a Mulher
Desde Adão que as gerações se sucedem para te trazerem a mim.
Eu sou teu pai – teu filho – teu esposo – teu amante.
Sou teu oráculo e teu enigma.
Sou teu sacerdote e tua vítima.
Sou teu tirano e teu escravo.
Dedico-te templos, guerras, vinganças, a história e o ideal.
Eu te domino e tu me esmagas.
E por ti sou capaz de abjurar meu Deus.
A poesia em pânico. Rio de Janeiro: Cooperativa Cultural Guanabara, 1937.
A Esfinge
Ó Deus
Eu nasci para ser decifrado por ti.
Com um pé no limbo, o coração na estrela Vênus e a cabeça na Igreja
Espero tua resposta desde o princípio do mundo.
Também tu nasceste para mim:
Com tua medalha ao peito, para não esquecer minha origem,
Percorro arfando este deserto.
A palavra definitiva deverá surdir de teus lábios
Ao menos no instante da minha morte.
O visionário. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1941.
Mulher em Três Tempos
Minha boca está no presente,
O meu olhar, no passado,
Meu ventre está no futuro.
Minha boca toda a noite
Está na boca amorosa
Do meu marido atual,
Meu olhar está no olho
Do meu namorado antigo,
Meu ventre está no futuro
Do corpinho do meu filho.
As metamorfoses. Rio de Janeiro: Ocidente, 1944.
Começo de Biografia
Eu sou o pássaro diurno e noturno,
O pássaro misto de carne e lenda,
Encarregado de levar o alimento da poesia e da música
Aos habitantes da estrada, do arranha-céu e da nuvem.
Eu sou o pássaro feito homem, que vive no meio de vós.
Eu vos forneço o alimento da catástrofe e o ritmo puro.
Trago comigo a semente de Deus… e a visão do dilúvio.
Alberto Magnelli. Roma: Ediozioni dell’Ateneo, 1964.
“L’opera di Magnelli è quindi il resultato di um’alleanza tra la cultura mediterranea,italiana – ma propriamente fiorentina – e la scoula di Parigi, che si sviluppò all’insegna dell’internazionalità. Magnelli è um artista senza teorie.”
“A obra de Magnelli é por conseguinte o resultado de uma aliança entre a cultura mediterrânea italiana – mais propriamente florentina – e a Escola de Paris, que se desenvolveu sob o signo da internacionalidade. Magnelli é um artista sem teoria.”
Italianissima (7 murilogrammi). Milão: Vanni Scheiwiller, 1965.
Calderara: pitture dal 1925 al 1965. Milão: All’Insegna del Pesce d’Oro, 1965.
Marrakech. Milão: All’Insegna del Pesce d’Oro, 1974.
Janelas verdes (primeira parte). Ilustração de Vieira da Silva. Lisboa: Galeria 111, 1989.
O Algarve
O Algarve é uma enorme praia de Portugal, redonda e quente, com amendoeiras, falésias, peixes azuis brasonados; aqui se fabricam os doces mais deliciosos e sonhadores do mundo, em particular os crismados Dom Rodrigo, que evocam doçuras bissextas da entretanto aguerrida Ximena.
Carta geográfica. 1965-1967.
Fragmentos de Paris
“O surrealismo, se não nasceu propriamente na cartesiana Paris, foi definido aqui.”
Espaço espanhol. 1966-1969. Notas de viagem.
Madrid
“A Espanha acha-se dividida entre o touro (paganismo) e a imagem do Cristo (com a da Virgem). A Igreja, muitas vezes ao lado do touro.”
Retratos- relâmpago: 2ª série. 1973-1974.
Conversa portátil. 1971-1974. Miscelânea em prosa e verso.
A invenção do finito. 1960-1970.
Papiers. Originais em prosa e verso, em francês.
O sinal de Deus. Texto de 1936 com correções autográficas de 1956 no Instituto de Estudos Brasileiros da USP (reedição).
Quatro textos evangélicos (O paralítico de Betsaida, As núpcias de Cana, O Cristo aclamado, Judas Iscariote). Publicados postumamente, na revista Letterature d’ America, Roma, em 1984.
O infinito íntimo. 1948-1953. Inclui outros textos poéticos menores.